Matos Soares 1956 - Evangelho segundo S. João, 1

S. João era filho de Zebedeu e de Salomé, e irmão de S. Tiago Maior. Sendo discípulo de S. João Baptista, quando ouviu o seu mestre chamar a Jesus Cordeiro de Deus , quis ir atrás dele e saber onde habitava. Um dia, estando com seu irmão Tiago a compor as redes dentro de uma barca, Jesus chamou-os ambos ao apostolado, e eles, tendo deixado na barca seu pai Zebedeu com os jornaleiros, seguiram-no. Desde este momento, S. João não abandonou mais o Salvador. O fim que se propôs, ao escrever o seu Evangelho, indíca-o de um modo claro no cap. 20, 31. Depois de ter afirmado que Jesus fez muitos outros prodígios que ele não descreveu, acrescenta: Estes, porém, foram escritos a fim de que vós acrediteis que Jesus é o Cristo, Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.
O Verbo nas suas relações com Deus. Missão de João Batista. Encarnação e seus frutos. Dois testemunhos de João Baptista. Jesus e os cinco primeiros discípulos

PRÓLOGO

O Verbo nas suas relações com Deus.
[1] No principio existia o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus.
O Verbo, isto é, a Palavra substancial de Deus.
[2] Estava no princípio junto de Deus,
[3] Todas as coisas foram feitas por ele; e sem ele nada foi feito.
[4] Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens,
Nele estava a vida como em sua fonte universal.
[5] e a luz resplandece nas trevas, e as trevas não o receberam.
E a luz, isto é, o Verbo resplandece entre as trevas da ignorância causada pelo pecado, por meio dos patriarcas e dos profetas. Depois vem ele próprio ao mundo ensinar os homens. Mas as trevas não o compreenderam, isto é, uma grande parte dos homens, endurecidos
Missão de João Batista.
[6] Apareceu um homem enviado por Deus que se chamava João.
[7] Veio como testemunha para dar testemunho da luz, a fim de que todos crêssem por meio dele.
Para dar... para tornar conhecido Jesus Cristo, verdadeira luz dos homens.
[8] Não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz,
[9] O Verbo era a luz verdadeira, que ilumina todo o homem que vem a este mundo.
Era a luz verdadeira... O texto original diz: A luz verdadeira, a que ilumina todo o homem, vinha ao mundo.
[10] Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.
[11] Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
Para o que era seu, isto é, para os Judeus chamados a herança de Deus (Ex. 15,17, etc.).
[12] Mas a todos os que o receberam, deu poder de se tornarem filhos de Deus, àqueles que crêem no seu nome;
[13] os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
Não nasceram... Esta filiação adoptiva não se realiza por meio de uma geração carnal, mais por meio de uma geração espiritual que tem por princípio o próprio Deus, o qual nos comunica a sua graça, e nos torna participantes da sua natureza.
Encarnação e seus frutos.
[14] E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória como de Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade.
[15] João dá testemunho dele e clama: Este era aquele de quem eu disse: O que há-de vir depois de mim, é mais do que eu, porque existia antes de mim.
[16] Todos nós participamos da sua plenitude, e recebemos graça sobre graça;
[17] porque a lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade foi trazida por Jesus Cristo.
A lei dada por Moisés, além de ser imperfeita, somente fazia conhecer o mal, e não dava forças para o evitar, estando cheia de figuras. Jesus Cristo, porém , deu-nos a graça, que nos fortalece para fazer a vontade de Deus, e, com a sua encarnação, fez passar à realidade as figuras do Antigo Testamento, e fez conhecer a verdade por meio da revelação dos mais altos mistérios de Deus.
[18] Ninguém jamais viu Deus; o Filho Unigénito, que está no seio do Pai, ele mesmo é que o deu a conhecer.

MANIFESTAÇÕES DA GLÓRIA DIVINA DE JESUS

As três primeiras manifestações de Jesus

Dois testemunhos de João Baptista.
[19] Eis o testemunho de João, quando os Judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas a perguntar-lhe: "Quem és tu"?
[20] Ele confessou a verdade, não a negou; e confessou: "Eu não sou o Cristo".
[21] Eles perguntaram-lhe: "Quem és pois? És tu Elias"? Ele respondeu: "Não sou". "És tu o profeta"? Respondeu: "Não".
O profeta. Segundo a opinião dos Judeus, um enviado de Deus devia preceder o Messias.
[22] Disseram-lhe então: "Quem és, pois, para que possamos dar resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?"
[23] Disse-lhes então: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías (Is. 40,3)."
[24] Ora os que tinham sido enviados eram fariseus.
[25] Interrogaram-no, dizendo: "Como baptizas, pois, se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?"
[26] João respondeu-lhes: "Eu baptizo em água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis.
Eu baptiso em água, em oposição ao baptismo no Espírito Santo, que Jesus dará.
[27] Esse é o que há-de vir depois de mim, ao qual eu não sou digno de desatar a correia das sandálias."
[28] Estas coisas passaram-se em Betânia, da banda de além do Jordão, onde João estava baptizando.
[29] No dia seguinte João viu Jesus, que vinha ter com ele, e disse: "Eis o Cordeiro de Deus, eis o que tira o pecado do mundo.
[30] Este é aquele, de quem eu disse: Depois de mim vem um homem que é superior a mim, porque era antes de mim,
[31] e eu não o conhecia, mas vim baptizar em água, para ele ser reconhecido em Israel."
[32] João deu este testemunho: "Vi o Espírito descer do céu em forma de pomba, e repousou sobre ele.
[33] Eu não o conhecia, mas o que me mandou baptizar em água, disse-me: Aquele, sobre quem vires descer e repousar o Espírito, esse é o que baptiza no Espírito Santo.
[34] Eu o vi, e dei testemunho de que ele é o Filho de Deus."
Jesus e os cinco primeiros discípulos
[35] Ao outro dia João lá estava novamente com dois de seus discípulos.
[36] Vendo Jesus que ia passando, disse: "Eis o Cordeiro de Deus."
[37] Ouvindo as suas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus.
[38] Jesus, voltando-se para trás, e vendo que o seguiam, disse-lhes: "Que buscais vós?" Eles disseram-lhe: "Rabi (que quer dizer Mestre), onde habitas?"
[39] Jesus disse-lhes: "Vinde ver." Foram, viram onde habitava, e ficaram com ele aquele dia. Era então quase a hora décima.
[40] André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido o que João dissera, e que tinham seguido Jesus.
[41] Este encontrou primeiro seu irmão Simão, e disse-lhe: "Encontramos o Messias" (que quer dizer Cristo).
[42] Levou-o a Jesus. Jesus, fixando nele o olhar, disse: "Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro ou Pedra."
[43] No dia seguinte Jesus resolveu ir à Galileia. Encontrou Filipe, e disse-lhe: "Segue-me."
[44] Filipe era natural da cidade de Betsaida, pátria de André e de Pedro.
[45] Filipe encontrou Natanael, e disse-lhe: "Encontramos aquele de quem escreveram Moisés na lei e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José."
Filho de José. Filipe não conhecia ainda o mistério da encarnação e da conceição virginal de Jesus Cristo e ignorava que ele tinha nascido em Belém
[46] Natanael disse-lhe: "De Nazaré pode porventura sair coisa que seja boa?" Filipe disse-lhe: "Vem ver."
De Nazaré... Nazaré era uma aldeia desprezada por todos, e por isso Natanael não acreditava que o Messias viesse de lá.
[47] Jesus viu Natanael, que ia ter com ele, e disse dele: "Eis um verdadeiro Israelita, em quem não há dolo."
[48] Natanael disse-lhe: "Donde me conheces tu?" Jesus respondeu-lhe: "Antes que Filipe te chamasse, te vi eu, quando estavas debaixo da figueira."
[49] Natanael respondeu: "Mestre, tu és o filho de Deus, tu és o rei de Israel."
[50] Jesus respondeu-lhe: "Porque eu te disse que te vi debaixo da figueira, crês; verás coisas maiores que esta."
[51] E acrescentou: "Em verdade, em verdade vos digo, vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem."
Subindo e descendo... Há aqui uma referência à visão de Jacó (Gn. 28, 12). O Filho do homem, tendo os anjos ao seu dispor, estabelecerá uma intima comunicação entre o céu e a terra.

Notás de Rodapé

[1] O Verbo, isto é, a Palavra substancial de Deus.
[4] Nele estava a vida como em sua fonte universal.
[5] E a luz, isto é, o Verbo resplandece entre as trevas da ignorância causada pelo pecado, por meio dos patriarcas e dos profetas. Depois vem ele próprio ao mundo ensinar os homens. Mas as trevas não o compreenderam, isto é, uma grande parte dos homens, endurecidos
[7] Para dar... para tornar conhecido Jesus Cristo, verdadeira luz dos homens.
[9] Era a luz verdadeira... O texto original diz: A luz verdadeira, a que ilumina todo o homem, vinha ao mundo.
[11] Para o que era seu, isto é, para os Judeus chamados a herança de Deus (Ex. 15,17, etc.).
[13] Não nasceram... Esta filiação adoptiva não se realiza por meio de uma geração carnal, mais por meio de uma geração espiritual que tem por princípio o próprio Deus, o qual nos comunica a sua graça, e nos torna participantes da sua natureza.
[17] A lei dada por Moisés, além de ser imperfeita, somente fazia conhecer o mal, e não dava forças para o evitar, estando cheia de figuras. Jesus Cristo, porém , deu-nos a graça, que nos fortalece para fazer a vontade de Deus, e, com a sua encarnação, fez passar à realidade as figuras do Antigo Testamento, e fez conhecer a verdade por meio da revelação dos mais altos mistérios de Deus.
[21] O profeta. Segundo a opinião dos Judeus, um enviado de Deus devia preceder o Messias.
[26] Eu baptiso em água, em oposição ao baptismo no Espírito Santo, que Jesus dará.
[45] Filho de José. Filipe não conhecia ainda o mistério da encarnação e da conceição virginal de Jesus Cristo e ignorava que ele tinha nascido em Belém
[46] De Nazaré... Nazaré era uma aldeia desprezada por todos, e por isso Natanael não acreditava que o Messias viesse de lá.
[51] Subindo e descendo... Há aqui uma referência à visão de Jacó (Gn. 28, 12). O Filho do homem, tendo os anjos ao seu dispor, estabelecerá uma intima comunicação entre o céu e a terra.